Com variante Delta, Brasil deveria reduzir intervalo entre doses?

País adota esquema de 3 meses para variante Delta do coronavírus e Pfizer; parcela de brasileiros adultos que completaram imunização é de 17,7%

Diante do avanço da variante Delta do coronavírus, identificada originalmente na Índia, alguns locais no Reino Unido decidiram recentemente reduzir de 12 para 8 semanas — ou até menos — o intervalo entre as doses dos imunizantes contra covid-19 da AstraZeneca e da Pfizer/BioNTech.

A estratégia de 12 semanas adotada inicialmente pelo governo britânico — e de países como Canadá, França e Alemanha — também é seguida pelo Ministério da Saúde brasileiro.

Em junho, o NHS (Serviço Nacional de Saúde) da Irlanda do Norte determinou a redução do intervalo entre as doses da Pfizer e AstraZeneca para oito semanas, alegando que a alteração aceleraria o programa de vacinação e garantiria “que as pessoas em toda a Irlanda do Norte tenham a proteção mais forte possível contra variantes do vírus”.

O diretor médico do órgão, Micheal McBride argumentou que seguiu “conselhos atualizados de especialistas independentes do Comitê Conjunto de Vacinação e Imunização britânico “que consideraram as evidências mais recentes disponíveis sobre a variante Delta (B1.617.2)”.

Em Londres, chegou a haver uma campanha chamada Grab a Jab (tome uma agulhada) para acelerar a conclusão do esquema vacinal.

Qualquer pessoa que tivesse recebido a primeira dose pelo menos 21 dias antes poderia tomar a segunda. A medida, no entanto, foi criticada pelo Serviço Nacional de Saúde do país.

Agora que começam a se confirmar mais casos da variante Delta, o Brasil deveria considerar seguir os passos do Reino Unido e encurtar o espaço para a segunda dose em indivíduos já vacinados com a primeira?

Na avaliação primeiro-secretário da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunologia), Renato Kfouri, ainda não é o momento.

“O Reino Unido pode fazer isso agora porque lá eles já têm um grande número de pessoas com a primeira dose”, explica.

Segundo o governo britânico, 70% da população tomou ao menos a primeira injeção.

No caso da AstraZeneca, há indicação em bula para um intervalo entre 4 e 12 semanas para a aplicação da segunda dose.

Os estudos clínicos da vacina apontaram uma proteção mais elevada com um espaço de tempo de três meses.

Na vacina da Pfizer/BioNTech, todavia, a bula orienta a administração da segunda dose, “de preferência”, após 21 dias.

A EMA (Agência Europeia de Medicamentos) sustenta que o intervalo entre as duas injeções não deve exceder 6 semanas.

Os fabricantes argumentam que “a segurança e a eficácia da vacina não foram avaliadas em esquemas de dosagem diferentes”.

Mesmo sem consenso, especialistas sustentam que esse uso off-label (fora de bula) da vacina da Pfizer pode ter vantagens, não do ponto de vista individual, mas coletivo.

Embora recomende a administração da segunda dose entre 21 e 28 dias, a OMS (Organização Mundial da Saúde) admite um “alto impacto na saúde pública” quando adotados intervalos maiores.

Segundo a entidade, em países com alta transmissão da covid-19 e baixo suprimento de vacinas, é possível considerar o adiamento da segunda dose da Pfizer em até 12 semanas para alcançar uma cobertura maior.

“Sabemos que vacinar apenas metade de uma população vulnerável levará a um aumento notável nos casos de covid-19, com tudo o que isso acarreta, incluindo mortes. Quando os recursos de doses e pessoas para vacinar são limitados, vacinar mais pessoas com potencialmente menos eficácia é comprovadamente melhor do que uma eficácia completa em apenas metade”, afirmou o professor de farmacoepidemiologia da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres Stephen Evans ao periódico científico BMJ.

Kfouri acrescenta que todas eventuais mudanças no esquema de vacinação estão sendo avaliadas por especialistas e pelo próprio Ministério da Saúde.

Ele admite, inclusive, a possibilidade de encurtar o espaço entre as doses se em setembro houver um grande percentual de indivíduos com a primeira dose.

O mês foi estabelecido pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, para que todos os brasileiros acima de 18 anos tenham tomado ao menos uma vacina contra a covid-19.

Até terça-feira (6), 17,7% da população acima de 18 anos havia completado o esquema vacinal. Outros 50% tomaram a primeira dose.

No atual cenário, 52 milhões de brasileiros ainda precisam tomar a segunda dose. Outros 51 milhões de indivíduos não tomaram uma dose sequer.

O R7 questionou o Ministério da Saúde se há planejamento de alterar o intervalo entre doses das vacinas e respondeu apenas o seguinte:

“O Ministério da Saúde esclarece que o intervalo entre doses para a vacina covid-19 AstraZeneca/Oxford/Fiocruz permanece, no momento, a mesma disposta em bula e orientada pelo fabricante, de 12 semanas. Esse é o mesmo período que a pasta orienta para vacina da Pfizer/BioNTech. Já para a vacina do Butantan, o intervalo entre as doses permanece em até quatro semana.

Fonte:R7

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