Dengue: Com 987 mortes em 2022, Brasil bate recorde em letalidade anual

O Brasil registrou o maior número de mortes pela dengue em 2022, mostra o novo boletim epidemiológico sobre arboviroses divulgado

O Brasil registrou o maior número de mortes pela dengue em 2022, mostra o novo boletim epidemiológico sobre arboviroses divulgado pelo Ministério da Saúde na segunda-feira 26.

No total, o país acumula 987 óbitos pela doença durante o ano, além de 100 em investigação.

Os estados com mais mortes pela dengue foram São Paulo, com 278; Goiás, com 154; Paraná, com 108; Santa Catarina, com 88, e Rio Grande do Sul, com 66. O total de óbitos em 2022 é 301,2% mais alto que o do ano anterior, quando foram 246 vidas perdidas.

Diagnóstico da dengue

Em relação aos diagnósticos, foram 1,4 milhão de casos identificados no país, um aumento de 163,8% em comparação com 2021. Porém, houve um leve recuo de 7,7% sobre as 1,5 milhão de infecções em 2019, antes da pandemia.

Mas como a dengue é uma doença cíclica, especialistas explicam que ela costuma provocar ondas maiores de três em três anos. A região mais afetada em 2022 foi a Centro-Oeste, com uma taxa de incidência de aproximadamente 2.028 casos a cada 100 mil habitantes. Em seguida, estão as regiões Sul, com 1.047 casos; Sudeste, 517; Nordeste, 425, e Norte, com cerca de 261 diagnósticos a cada 100 mil pessoas.

Os municípios com mais registros foram Brasília, com um total de 68.654 infecções; Goiânia (GO), 54.052; Aparecida de Goiânia (GO), 26.277; Joinville (SC), 21.422; Araraquara (SP), 20.966, e São José do Rio Preto (SP), com 20.025 casos de dengue.

Falta de coordenação no combate à doença

A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) já emitiu um alerta sobre a possibilidade de o recorde de óbitos ser atingido neste ano, com uma “tendência real de chegarmos perto de mil morte.

No documento, a entidade pede mais atenção às medidas preventivas da doença, como o combate ao mosquito vetor do vírus, o Aedes Aegypti.

Para o vice-presidente da SBI, Alexandre Naime Barbosa, professor da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), o principal motivo que levou o país a atingir a marca foi a falta de coordenação no combate à doença.

“Nós temos ainda os óbitos em investigação e os dados represados, então provavelmente vamos bater a marca de mil mortes.

A Falta de interesse dos estados e municípios foi o principal  motivo

Não houve articulação com os estados e municípios de conscientização. Esse é o principal motivo para o recorde”, diz o infectologista.

Além disso, destaca que fatores ambientais, como as mudanças climáticas e o período maior de chuvas registrado em 2022, colaboram para o avanço do mosquito que transmite a dengue e outras arboviroses.

“Foi um ano extremamente chuvoso, quente, o que é propício para que os ovos do mosquito eclodam e aumente a quantidade de vetores transmitindo não só a dengue, mas também a chikungunya e a zika. O problema é essa falta de controle do vetor. Isso é intensificado pelas mudanças climáticas. Estamos tendo um cenário grave em lugares onde não tínhamos a dengue, como em Santa Catarina e na região Sul num geral. O mosquito está ampliando as suas fronteiras”, explica Barbosa.

Em caso de sintomas, é importante buscar o atendimento médico para realizar o diagnóstico da doença e receber o tratamento adequado. Geralmente, os sinais envolvem febre abrupta, dores de cabeça, dores no corpo, nas articulações e ao redor dos olhos. A infecção também pode provocar manchas avermelhadas na pele, enjôos e vômito.

Procurado, o Ministério da Saúde disse, em nota, que “acompanha com atenção a situação epidemiológica da dengue no país e tem investido em ações de combate à doença junto aos estados e municípios”, e que lançou, em outubro, a campanha nacional “Todo dia é dia de combater o mosquito” de combate à dengue, zika e chikungunya.

“Além das ações, o Ministério da Saúde também envia a todos os estados, regularmente, insumos como inseticidas e larvicidas para o combate ao mosquito”, diz a pasta.

Para Naime Barbosa, porém, os esforços não são suficientes e compatíveis com a dimensão do surto enfrentado neste ano.

Controle da dengue

Para a prevenção da dengue, existe uma vacina, a Dengvaxia, da farmacêutica Sanofi. Porém ela está disponível apenas em clínicas privadas, é indicada apenas para evitar reinfecções, que costumam ser mais graves, e tem o público-alvo restrito apenas pessoas de de 9 a 45 anos que já foram contaminadas anteriormente. Por isso, não é a principal estratégia de combate ao vírus.

As iniciativas são voltadas especialmente para diminuir a reprodução do agente transmissor da doença, o mosquito Aedes aegypti. Para depositar seus ovos, o inseto utiliza água parada. Portanto, os métodos envolvem verificar lugares onde pode haver recipientes com líquidos, como caixas d’água abertas, vasos de plantas, garrafas e pneus, e eliminar o acúmulo.

Além disso, não deixar concentrar o lixo e utilizar repelente em áreas de grande exposição a mosquitos são formas eficientes de evitar a doença.

Naime Barbosa, que colaborou com o grupo de transição de Saúde, afirma que as principais iniciativas para o próximo ano devem envolver um reforço nessa comunicação sobre o combate à dengue.

Além disso, afirma que a eventual aprovação de uma nova vacina, que está em análise pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pode ter um impacto positivo no cenário da doença.

“A ideia é começar 2023 com campanhas muito fortes sobre a dengue. Até porque o verão de 2022/2023 tem tudo para ser muito chuvoso e quente, então a tendência é piorar. Isso foi concluído no relatório final do grupo de transição de Saúde. A vacina da Takeda, que já foi aprovada na Europa, que está em análise na Anvisa. Ela tem eficácia principalmente na redução de casos graves e óbitos e trará benefícios especialmente para a população de alto risco”, diz o especialista.

Novas vacinas

A aplicação japonesa utiliza um vírus atenuado (enfraquecido) da dengue para induzir a resposta imunológica pelo organismo. A versão incluída na formulação é do sorotipo 2 da doença, mas se mostrou eficaz em criar uma proteção contra todos os quatro sorotipos conhecidos. O esquema é em duas doses, no intervalo de três meses entre elas.

Então os estudos que incluíram 28 mil participantes mostraram que, no acompanhamento de 18 meses após a última aplicação, o imunizante foi capaz de reduzir em 90,4% as hospitalizações causadas pela dengue. No período de 4 anos e meio após a vacinação, mas permaneceu alta: 84,1% contra internação e 61,2% contra a doença no geral.

Os estudos mostraram ainda que a proteção é segura, sem efeitos adversos graves.

“A reposta do laboratório é necessária para o seguimento e conclusão da análise técnica”, afirmou a agência. Além disso, há um imunizante em desenvolvimento pelo Instituto Butantan, em São Paulo, em parceria com os Institutos Nacionais de Saúde (NIH), dos EUA.

Mas há duas semanas, o instituto paulista anunciou que, na última etapa dos testes clínicos, a vacina, em dose única, mostrou uma eficácia de 79,6% para evitar a doença. Os dados são de um acompanhamento de dois anos com mais de 16 mil indivíduos de todo o Brasil. O estudo seguirá até todos os indivíduos completarem cinco anos em monitoramento, em 2024. (Com informações cartacapital)

 

 

AliançA FM

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