O nó que amarra Doria e grande parte do PSDB passa pelo caminho a ser trilhado pelos partidos da chamada terceira via — PSDB, MDB e Cidadania. As três siglas marcaram para hoje o anúncio do nome que encabeçaria a chapa presidencial apoiada pelo grupo.
Doria, porém, dá sinais de que não está disposto a deixar o páreo para apoiar quem quer que seja, mesmo que essa fosse a decisão da maioria do bloco. O ex-governador se fia no fato de o PSDB ter aprovado em prévias o nome dele para representar o partido na corrida pela Presidência.
— Diante do impasse, então, a Executiva do partido resolveu agir. Não é possível “dar nenhum passo” em relação ao candidato único da terceira via sem um “diálogo interno” com Doria. Não estamos na fase de avaliar qual candidatura deve seguir. A percepção nossa é primeiro ter um diálogo com Doria. E, com a participação dele, chegarmos a um entendimento definitivo que possa unir parceiros como o MDB. Isso passa por um processo de diálogo e construção em que ele (Doria) tenha também a percepção das dificuldade políticas, mas também o poder político que ele tem como pré-candidato — justificou Bruno Araújo.
Em contraste ao tom cauteloso adotado pelo presidente do partido, Aécio foi mais incisivo nas reais intenções da “convocação”. O deputado mineiro é inimigo político declarado de Doria, que já trabalhou, sem sucesso, para expulsá-lo do PSDB.
— (Será) Uma convocação, mais do que um convite, para ouvirmos o governador João Doria. E darmos a oportunidade a ele de ouvir a realidade, que a sua candidatura traz prejuízos aos estados.
Dar a ele a oportunidade de sair desse processo. Eu tenho a expectativa ainda de um gesto de desprendimento e grandeza do próprio governador — disse Aécio.
Antes de deliberar sobre o chamado ao ex-governador para uma reunião, tanto o grupo de Araújo quanto o de Aécio repudiaram a carta, divulgada nesta semana, em que Doria ameaça recorrer à Justiça se não for lançado como candidato do PSDB após ganhar as primárias no ano passado.
Mesmo apoiadores de Doria concordaram que a referida carta, na qual ele se colocava como vítima de um “golpe” foi um “equívoco”.
O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), que chefia o jurídico da sigla, também se posicionou contrário ao teor da carta. Tanto Sampaio como Izalci apoiaram a candidatura de Doria nas prévias do PSDB.
Aliados de Araújo acreditam, porém, que Doria tende a conseguir decisões favoráveis na Justiça, visto que o estatuto tucano prevê que o vencedor das prévias deve ter sua candidatura homologada na convenção nacional.
O presidente do PSDB disse ainda que o partido busca uma solução política e que a “judicialização é antipolítica”, em resposta à ameaça de Doria de levar a questão à Justiça Eleitoral para garantir sua candidatura. Ele negou que esteja agindo com a missão de retirar a candidatura de Doria.