O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil caiu 0,1% no 3º trimestre de 2021, na comparação com os três meses imediatamente anteriores, confirmando a entrada do país em uma nova recessão técnica, segundo divulgou nesta quinta-feira (2) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em relação a igual período de 2020, houve crescimento de 4%.
Os dados oficiais reforçam a leitura de forte desaceleração da recuperação da economia após o PIB ter conseguido retomar no início do ano o patamar pré-pandemia.
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A recessão técnica é caracteriza por dois trimestre seguidos de retração. A última tinha sido registrada nos dois primeiros trimestres de 2020, quando o PIB ‘encolheu’ 2,3% e, em seguida, 8,9%.
O resultado do 2º trimestre do ano foi revisado para uma queda de -0,4%, contra leitura inicial de queda de -0,1%. O IBGE também revisou o resultado da alta do 1º trimestre, de 1,2% para 1,3%.
“O PIB está no patamar do fim de 2019 e início de 2020, período pré-pandemia, e ainda está 3,4% abaixo do ponto mais alto da atividade econômica na série histórica, alcançado no primeiro trimestre de 2014”, destacou o IBGE.
O resultado veio um pouco pior do que o esperado. A expectativa em pesquisa da Reuters era de estabilidade no 3º trimestre sobre os três meses anteriores.
O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e é o principal indicador usado para medir a evolução da economia.
No acumulado do ano até setembro, o PIB avançou 5,7% contra igual período do ano passado. Na soma dos últimos 4 trimestres, o avanço é de 3,9%.
Principais destaques do PIB no 3º trimestre:
- Agropecuária: -8%
- Indústria: zero
- Serviços: 1,1%
- Consumo das famílias: 0,9%
- Consumo do governo: 0,8%
- Investimento (FBCF): -0,1%
- Importação: -8,3%
- Exportação: -9,8%
- Construção: 3,9%
- Comércio: -0,4%
- Indústria de transformação: -1%
- Indústria extrativa: -0,4%
O que puxou a queda
Apesar da alta de 1,1% nos serviços, que respondem por mais de 70% do PIB nacional, a queda no 3º trimestre foi pressionada para baixo por conta da queda de 8% na agropecuária e também pela queda de 9,8% nas exportações de bens e serviços.
Já a indústria, que responde por cerca de 20% do PIB, ficou estagnada, afetada pelo encarecimento dos insumos e outros problemas na cadeia produtiva, além da crise energética.
“Como ela é a principal commodity brasileira, a produção agrícola tende a ser menor a partir do segundo semestre. Além disso, a agropecuária vem de uma base de comparação alta, já que foi a atividade que mais cresceu no período de pandemia e, para este ano, as perspectivas não foram tão positivas, em ano de bienalidade negativa para o café e com a ocorrência de fatores climáticos adversos na época do plantio de alguns grãos”, explicou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
Já o crescimento dos serviços foi puxado por outras atividades (4,4%), que reúnem os serviços prestados às famílias.
“Com o avanço da vacinação contra Covid-19 e o consequente aumento da mobilidade e reabertura da economia, as famílias passaram a consumir menos bens e mais serviços”, destacou a pesquisadora.
Cinco atividades de serviços apresentaram crescimento: outras atividades de serviços (4,4%), informação e comunicação (2,4%), transporte, armazenagem e correio (1,2%), administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (0,8%). As atividades imobiliárias (0,0%) ficaram estáveis e apenas as atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (-0,5%) e comércio (-0,4%) registraram queda.
“A queda nos serviços financeiros se deve em grande parte ao aumento nos sinistros de planos de saúde, por causa da pandemia”, observou Palis.
Consumo de serviços represado
Pela ótica da despesa, o consumo das famílias teve expansão de 0,9%, em relação ao trimestre imediatamente anterior. Já a despesa de consumo do governo cresceu 0,8%.
Segundo o IBGE, o crescimento do consumo das famílias mesmo com uma inflação nas alturas e renda em queda é explicado pelo aumento na ocupação no mercado de trabalho e pelo avanço da vacinação.
“O aumento do consumo das famílias tem a ver com consumo de serviços, que a gente vê com a reabertura, avanço da vacinação, aumento da mobilidade e o consumo represado, que tem feito as famílias migrarem do consumo de bens para o consumo de serviços”, explicou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.
“O consumo estava muito represado, tanto que a gente tem visto um crescimento da poupança durante vários trimestres. Quem consome mais serviços são as famílias com maior poder aquisitivo, que foram as que mais pouparam e estavam com consumo de serviços represados. Não é que elas não tinham recursos pra consumir”, acrescentou.
Investimentos caem pelo 2º trimestre seguido
Os investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo) tiveram queda de 0,1%, após recuo de 3% no 2º trimestre. A taxa de investimento no 3º trimestre foi de 19,4% do PIB contra 16,4% no mesmo período do ano anterior, mas ainda abaixo do patamar de 2013, quando alcançou quase 21%.
Já a taxa de poupança foi de 18,6%, maior que os 16,2% obtidos no mesmo período de 2020.
Revisão do tombo de 2020
Na divulgação do terceiro trimestre de cada ano, o IBGE costuma realizar uma revisão abrangente das Contas Nacionais Trimestrais. Nesse sentido, o resultado do PIB de 2020 foi revisado para uma queda de 3,9%, ante leitura inicial de um tombo de 4,1%.
Piora das expectativas
A economia brasileira vem perdendo o ímpeto mesmo com a reabertura do setor de serviços e fim de boa parte das medidas restritivas lançadas no país para frear o avanço da Covid-19 desde o começo do ano passado.
Desde setembro, as projeções para a economia têm sido revisadas continuamente para baixo, em meio à disparada da inflação e aumento das incertezas fiscais após as manobras do governo para driblar o teto de gastos e abrir espaço no Orçamento no ano eleitoral de 2022.
As preocupações com a saúde das contas públicas, o desemprego ainda elevado e a elevação em ritmo acelerado da taxa básica de juros para conter a inflação vêm provocando uma redução da confiança de empresários e consumidores.
Segundo dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC), a inadimplência subiu em novembro, para o maior patamar do ano, com 26,1% das famílias relatando ter dívidas ou contas em atraso.
A média atual das projeções do mercado financeiro apontam para alta de 4,78% do PIB em 2021 e de 0,58% em 2022, bem abaixo da média global e a pior perspectiva entre os países do G20. E parte dos analistas apontam para o risco de retração no ano que vem.
Com o resultado do 3º trimestre pior do que o esperado, os analistas já começam a revisar para baixo as projeções para o PIB do ano. O banco Modalmais, por exemplo, agora prevê crescimento de 4,6% em 2021, ante previsão anterior de 4,8%.
AliançA FM
Com informações de Darlan Alvarenga e Fernanda Martinez, g1