‘Hoje, o maior agressor dos povos indígenas e da natureza é o próprio governo brasileiro’, afirma arcebispo
As denúncias de violência contra indígenas brasileiros passaram de 110, em 2018, para 276, em 2019 (+150%), aponta um informe divulgado nesta quarta-feira 30 por um organismo vinculado à Igreja Católica, que pôs na mira as posições do presidente Jair Bolsonaro.
No documento, o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) enumera casos de abuso de poder, ameaças de morte, racismo e discriminação, tentativas de assassinato e violência sexual.
“Os dados de 2019 mostram que os povos e seus territórios tradicionais estão sendo explicitamente usurpados”, disse em um comunicado o CIMI, vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Um dos poucos indicadores que mostraram uma redução foi o de assassinatos de indígenas, o qual, de qualquer modo, manteve-se na casa da centena. Foram 113, em 2019, contra 135, em 2018.
As invasões, a exploração ilegal de recursos e os danos ao patrimônio pularam de 109 casos, em 2018, para 256, em 2019.
“Até quando matarão os indígenas para explorar suas terras?”, questionou o arcebispo e presidente do CIMI, Roque Paloschi, no lançamento virtual do informe.
“Hoje, o maior agressor dos povos indígenas e da natureza é o próprio governo brasileiro”, acrescentou.
“A intensificação das expropriações de terras indígenas através da invasão, da ocupação ilegal por parte de estranhos à comunidade (…) se consolida de forma acelerada e agressiva em todo território nacional, causando uma destruição incalculável”, reforça o texto.
O relatório afirma que muitos agressores se sentiram estimulados pela chegada de Bolsonaro ao poder, em janeiro de 2019. O presidente de extrema direita se opõe à demarcação de terras indígenas e defende a abertura de seus territórios para a exploração energética e agropecuária.
“Em algumas situações descritas no informe, os próprios invasores mencionavam o nome do presidente da República, confirmando que suas ações criminais são incentivadas por aquele que deveria cumprir a obrigação constitucional de proteger os territórios indígenas, patrimônio do país”, insiste o documento.