Entre lágrimas e ostentando olheiras profundas, democrata declara encerradas as brigas do processo sucessório. Postura oposicionista deve ser mantida e pode determinar até troca de partido
Após quarenta dias de embates e negociações que racharam partidos e dividiram a Câmara como em poucas ocasiões, Rodrigo Maia desembarcou do posto que o projetou como um dos mais importantes players da arena política brasileira sem futuro certo e sob a sombra da traição do próprio DEM. Político de parcos votos e pouca popularidade, o economista de visão liberal fez do seu último discurso uma peça de defesa da redução da desigualdade social, bandeira típica da esquerda e ausente da plataforma de seu partido.
Entre as centenas de projetos votados pela Câmara durante sua gestão, Maia destacou o mais representativo em tempos de pandemia: o orçamento de guerra. E chamou para o Legislativo a autoria da medida que permitiu o socorro financeiro aos mais pobres no momento mais grave da crise do coronavírus. E defendeu igualdade principalmente no direito à vida, ao mencionar as chances de sobrevivência entre pacientes de Covid nas UTIS de hospitais particulares, de 70% e os dos hospitais públicos, de 35%.
O democrata pagará o preço pelo estilo personalista que imprimiu nos últimos meses de sua gestão. Mas também desfrutará da imagem de político com posições firmes na defesa dos pilares da democracia, da liberdade de imprensa e de expressão, e do respeito a um ambiente social livre de sectarismos. Na reta final, angariou apoios entre oposicionistas e se credencia como interlocutor moderado na complexa arena que se desenha rumo a 2022.
Rodrigo Maia agora tem lado. O jovem de cara amarrada que chegou à Câmara sob a sombra do pai, César Maia, amadureceu na dificuldade de uma gestão limítrofe, e agora sai do centro das atenções para descer à planície. Seus pares e eleitores observarão se serão mantidos os compromissos que assumiu nos últimos tempos, assim como a coerência com essa trajetória.
Fonte: R7