Madalena não tinha direitos, não recebia salário e vivia reclusa sob a vigilância dos patrões quando foi resgatada
Auditores fiscais do Trabalho e a Polícia Federal libertaram a empregada doméstica Madalena Gordiano, de 46 anos, que vivia em condições análogas às de escravidão, em Patos de Minas (MG).
A mulher foi resgatada no fim de novembro após uma investigação do Ministério Público do Trabalho (MPT). Segundo as autoridades, vizinhos desconfiaram dos pedidos feitos por Madalena, que deixava bilhetes em baixo da porta dizendo que precisava de dinheiro para comprar materiais de higiene pessoal.
De acordo o MPT, a vítima vivia em condição análoga à escravidão. “Ela não tinha registro em carteira, um salário mínimo garantido, férias. Ela não tinha descanso semanal remunerado”, destacou o auditor fiscal Humberto Monteiro.
Segundo as investigações, aos 8 anos de idade, Madalena bateu à porta de uma casa para pedir comida. A professora Maria das Graças Milagres, dona da residência onde ela buscou ajuda, ofereceu-se para adotá-la, mas o ato nunca foi formalizado. Assim que chegou à casa nova, foi tirada da escola.
“Ela não quis que eu estudasse mais, porque eu já ‘tava’ uma mocinha. Parei até a terceira série”, disse Madalena as autoridades.
A doméstica contou ainda que cresceu ajudando a cuidar da casa e criar os filhos de Maria das Graças. “Ajudava a arrumar, a cozinhar, lavar o banheiro, passar pano na casa.”
Depois de 24 anos, o marido da “patroa” começou a rejeita-la e ela foi “dada” para o filho da professora, Dalton Milagres. Ele também é professor e trabalha em uma universidade de Patos de Minas.
Em depoimento, Dalton disse que foi Madalena quem quis parar de estudar, e que ele não a incentivou a continuar frequentando as aulas porque não acreditava que ela se beneficiaria com a educação.
Ainda segundo a MPT, em 2001, um tio da esposa de Dalton se casou com Madalena, mas eles nunca moraram juntos. O homem era ex-combatente das Forças Armadas e morreu pouco tempo depois, deixando duas pensões, que somadas passam de R$ 8 mil, para a doméstica. Apesar disso, ela nunca teve acesso ao dinheiro. Era Dalton quem controlava as finanças de Madalena e dava apenas uma pequena parte para ela. “Ele me dava R$ 200, R$ 300”, contou a empregada.
Dados oficiais apontam que desde 1995, cerca de 55 mil pessoas foram resgatadas em situação de escravidão no Brasil, sendo a maioria na zona rural. Em 2019, 14 pessoas foram retiradas de trabalho escravo doméstico, mais difícil de ser identificado devido à inviolabilidade do lar.
Fonte: DOL