O governo anunciou na última segunda-feira (23) que decidiu trocar o presidente da Petrobras, 40 dias após a posse de José Mauro Coelho no comando da empresa. A notícia chegou ao executivo pouco mais de uma hora antes de ser anunciada pelo Ministério de Minas e Energia, a quem a estatal está vinculada.
Para o lugar de Zé Mauro, como é conhecido no mercado, foi convidado Caio Mário Paes de Andrade que atua como secretário especial do ministro Paulo Guedes (Economia) e, caso tenha o nome confirmado pela companhia, será o quarto presidente da empresa no governo de Jair Bolsonaro (PL).
Segundo um integrante do conselho da Petrobras que falou sob anonimato, o indicado não preenche os requisitos para o cargo exigidos pela Política de Indicações para a Alta Administração da Petrobras.
Andrade, que já tinha sido cotado para ocupar a presidência da companhia no mês passado, não tem experiência comprovada de, no mínimo, três anos, no mercado de óleo e gás. O mais próximo disso é a posição de conselheiro da estatal Pré-Sal Petróleo SA (PPSA), que gere os contratos de óleo e gás da União, desde janeiro de 2021 (há um ano e cinco meses).
O indicado para a empresa é próximo ao ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida que também fazia parte da equipe de Guedes.
As escolhas de Sachsida e Andrade para os postos de ministro do MME e de presidente da Petrobras representam a retomada de forças de Guedes sobre a companhia.
O ministro, que tem deixado expressar seu descontentamento com o comando da empresa nos últimos meses, agora tem a oportunidade de controlar várias das decisões relacionadas à companhia enquanto o governo ele, inclusive lutam pela reeleição de Bolsonaro.
Embora a troca do presidente da Petrobras na noite desta segunda-feira tenha sido uma surpresa dentro da companhia, nos últimos dias ela era dada como certa no governo.
O próprio Bolsonaro sinalizou em uma de suas lives semanais recentemente que faria mais “mudanças de pessoas” quando se referiu à empresa.
Coelho passou a sofrer fritura pouco depois de sua chegada ao cargo, após a empresa anunciar um reajuste no preço do diesel no começo de maio. O aumento do valor médio do combustível foi de 8,87% nas refinarias.
Nesta segunda, Bolsonaro voltou a criticar a empresa após ficar constatado que uma empresa boliviana está enviando menos gás à petroleira brasileira do que o contratado forçando a empresa a buscar o produto de outros países.
“É um negócio parece orquestrado para exatamente favorecer você sabe quem”, afirmou a apoiadores.
Bolsonaro critica tanto os reajustes da empresa como o lucro trimestral de R$ 44,5 bilhões da Petrobras, que chamou de “estupro” neste mês.
“Petrobras, estamos em guerra. Petrobras, não aumente mais o preço dos combustíveis. O lucro de vocês é um estupro, é um absurdo. Vocês não podem aumentar mais o preço do combustível”, declarou o presidente, durante sua live semanal.
Em nota sobre a troca, o governo afirma que o país vive um momento desafiador e que é preciso trabalhar por um “cenário equilibrado na área energética”.
“Diversos fatores geopolíticos conhecidos por todos resultam em impactos não apenas sobre o preço da gasolina e do diesel, mas sobre todos os componentes energéticos”, afirma o Ministério de Minas e Energia, em nota.
Segundo a pasta, é preciso manter condições necessárias para o crescimento do emprego e renda dos brasileiros e “fortalecer a capacidade de investimento do setor privado como um todo”.
“Trabalhar e contribuir para um cenário equilibrado na área energética é fundamental para a geração de valor da empresa, gerando benefícios para toda a sociedade”, diz a pasta.
Com o movimento, o governo intervém na empresa a menos de cinco meses das eleições, em um momento em que os preços de combustíveis impactam a popularidade de Bolsonaro, que continua em segundo lugar nas pesquisas.
AliançA FM