Belém aplicou 2,6 mil vacinas vencidas, aponta Ministério

A capital paraense teria aplicado 2.673 doses do imunizante fora da validade, segundo dados do Ministério da Saúde. A Prefeitura, entretanto, afirma que o caso se tratou de um erro no banco de dados e que não houve aplicação de doses vencidas.

Pelo menos 26 mil doses vencidas da vacina AstraZeneca foram aplicadas em diversos postos de saúde do país, o que compromete sua proteção contra a Covid-19. Os dados constam de registros oficiais do Ministério da Saúde, e apontam Belém como a segunda cidade com o maior número de doses vencidas, com quase 2.673 mil unidades.

A capital paraense ficou atrás apenas de Maringá, no Paraná, que administrou 3.536 doses vencidas, segundo os dados divulgados pelo Ministério da Saúde. Atrás de Belém ficaram os municípios de São Paulo (SP), com 996, Nilópolis (RJ), com 852, e Salvador (BA), com 824. As demais cidades aplicaram menos de 700 vacinas vencidas, sendo que a maioria não passou de dez doses.

Até o dia 19 de junho, os imunizantes com o prazo de validade expirado haviam sido utilizados em 1.532 municípios brasileiros.

Além disso, outras 114 mil doses da vacina AstraZeneca que foram distribuídas a estados e municípios dentro do prazo de validade já expiraram. Não está claro se foram descartadas ou se continuam sendo aplicadas.

Segundo os registros do Ministério da Saúde, quase 100% das doses com registro vencido em Belém foram aplicadas no Departamento de Vigilância Sanitária (Devs), sendo 2.645 no dia 14 de abril e 27 no dia 30 de abril. Apenas um única dose vencida foi aplicada no Hospital Dom Luiz I, no dia 14 de abril.

POSICIONAMENTO

A Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) informa que realiza o envio dos imunizantes aos municípios em até 48h da chegada das doses ao Estado e não enviou quaisquer vacinas fora da validade ou próximo da data de vencimento.

Por nota, a Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) informou que “o lote em questão é o 4120Z005. A Sesma recebeu, dia 2 de fevereiro de 2021, um total de 9.910 doses deste referido lote do imunizante desenvolvido pela Oxford/AstraZeneca. E garante que nenhuma dose de imunizante vencido foi aplicada em Belém”.

A Secretaria afirmou que “tem um rigoroso controle de estoque na câmara fria, onde os produtos são conservados e armazenados. Entretanto, é possível que tenha havido erros apenas nos registros, especialmente nas primeiras etapas da Campanha de Vacinação em massa, quando as anotações eram feitas manualmente em fichas de papel e posteriormente digitadas no Sistema do Programa Nacional de Imunizações (SIPNI)”.

A Sesma afirma ainda que “trabalha na correção destas informações no SIPNI, uma vez que agora é possível editar os dados da vacinação. Atualmente, o órgão utiliza um aplicativo para dispositivos Android que diminui o risco desse tipo de erro de registro”.

De acordo com os dados oficiais do Ministério da Saúde, no entanto, 99,7% dos registros de AstraZeneca após validade em Belém são de segunda dose. Foram ministradas, portanto, a partir de abril (a vacinação começou no país em janeiro e o intervalo entre doses desse imunizante é de 90 dias).

ASTRAZENECA

AstraZeneca é a vacina mais usada no Brasil. Ela responde por 57% das doses aplicadas neste ano. A imensa maioria foi utilizada de acordo com as orientações do fabricante.

Todos os imunizantes expirados integram oito lotes da AstraZeneca importados ou adquiridos por consórcio. Um deles passou da validade no dia 29 de março. O que venceu há menos tempo estava válido até 4 de junho.

O lote pode ser conferido na carteira individual de vacinação. Quem tiver recebido uma dose de um desses oito lotes de AstraZeneca após a data de validade  deve procurar uma unidade de saúde para orientações e acompanhamento.

Além disso, de acordo com o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra Covid-19, quem tomou imunizante vencido precisa se revacinar pelo menos 28 dias depois de ter recebido a dose administrada equivocadamente. Na prática, é como se a pessoa não tivesse se vacinado.

O plano define, também, que cada indivíduo vacinado seja identificado com o lote da imunização recebida, o produtor da vacina e a dose aplicada. Isso é feito justamente para acompanhamento do Ministério da Saúde e eventual identificação de erros vacinais.

O DataSUS (sistema de informações do Ministério da Saúde) também identifica todas as pessoas imunizadas com um código individual, acompanhado de informações sobre idade, grupo prioritário de vacinação, data da imunização e lote da vacina recebida.

Já a data de validade de cada lote vacinal consta de outro sistema do governo federal, o Sage (Sala de Apoio à Gestão Estratégica), que registra os comprovantes de entrega dos imunizantes contra Covid-19 por estado. Em cada um desses recibos há informações públicas sobre o número do lote vacinal, a data de validade, o fabricante e a data de entrega.

A Folha cruzou as duas bases —DataSUS e Sage— a partir do número do lote das vacinas. Foram consideradas todas as imunizações do país contra Covid-19 até 19 de junho.

O levantamento inédito mostra que, até essa data, um total de 25.935 doses de oito lotes de AstraZeneca foram aplicadas fora da validade. Metade desses lotes veio do Instituto Serum da Índia; a outra metade, da Opas (Organização Pan-Americana de Saúde).

As vacinas desses lotes foram distribuídas de janeiro a março pelo governo federal para todos os estados do país antes do vencimento. Elas somam quase 3,9 milhões de doses, das quais cerca de 140 mil não foram utilizadas dentro do prazo de validade. Dessas, até o dia 19 de junho, 26 mil tinham sido aplicadas já vencidas.

A maioria (70%) das doses aplicadas depois da validade é de um mesmo lote do Instituto Serum, identificado como “4120Z005”. O bloco venceu em 14 de abril, mas continuou sendo aplicado depois dessa data pelo país.

Paraná e Pará —que receberam os imunizantes desse lote em 24 de janeiro, logo depois de o primeiro lote de AstraZeneca da Índia ter chegado ao Brasil— têm a maior quantidade de registros de doses após o vencimento. Em Maringá e Belém, quase todas as doses vencidas foram ministradas especificamente nos dias 22 de abril e 11 de maio.

A capital do Pará também registrou 27 doses aplicadas após vencimento de outro lote, identificado como “CTMAV501”, que veio da Opas e expirou em 30 de abril.

São Paulo também está entre os estados com maior quantidade de registros de doses aplicadas depois do vencimento: foram 3.648 unidades dos oito lotes vencidos de AstraZeneca ministrados (1.820 delas do mesmo lote indiano “4120Z005”).

Fonte: FOLHAPRESS

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