Estados Unidos? Inglaterra? Holanda? Todas venceram, sim, mas nenhuma mostrou alguma organização e fluidez de jogo que justificasse a empolgação da torcida. E as três também enfrentaram seleções estreantes em Copas (Vietnã, Haiti e Portugal, respectivamente). Logicamente, podem se recuperar ao londo do Mundial (e até vencê-lo). Mas, neste momento, o protagonismo é brasileiro.
Não dá para afirmar categoricamente que foi “a” grande atuação da Copa até aqui. A Alemanha, que entrou em campo um pouco antes, aplicou 6 a 0 no Marrocos, mais uma seleção que fez sua estreia em Copas. O Japão fez 5 a 0 em outra estreante, Zâmbia. E a Espanha bateu a Costa Rica, que joga seu segundo Mundial, por 3 a 0. Esses são os outros destaques da primeira rodada, e a seleção brasileira não ficou devendo nada a esses adversários.
— Estou muito satisfeita com tudo o que fizemos até agora. Nós nos preparamos muito bem, e como já disse não sei como as jogadoras mais jovens jogariam hoje. Convivendo e conversando com elas nos vestiários e durante as refeições, sei que essa é uma equipe feliz, isso é um bom começo. Se a gente mantiver essa alegria, que é contagiante, será muito importante. Quando não jogarmos bem, como vamos lidar? Não temos essa situação, todas jogaram bem e isso vai passar para o próximo jogo. Se continuarmos nos esforçando, tentando, vamos estar satisfeitas, e essa alegria será levada para a próxima partida — comentou Pia Sundhage na entrevista coletiva após a goleada.
Não se deve desconsiderar a fragilidade panamenha. Ainda assim, a goleada desta segunda passa menos pelo que o adversário podia oferecer e mais pelo que o Brasil entregou em campo.
Em primeiro lugar: disciplina tática. Você já deve ter ouvido a técnica Pia Sundhage falar com seu sotaque característico as palavras “juntas” e “compactazão”. Foi isso que o Brasil mostrou, ao jogar praticamente o primeiro tempo todo no campo ofensivo.
Jogadoras do Brasil comemoram um dos três gols de Ary Borges na goleada sobre o Panamá — Foto: Thais Magalhães/CBF
E aí é preciso falar sobre Luana. A volante do Corinthians só não foi o nome do jogo porque a noite não podia ser de outra senão de Ary Borges, a primeira brasileira a fazer um hat-trick em sua estreia na Copa do Mundo.
Mas deixemos Ary Borges para depois. Primeiro, Luana. Ela foi a única jogadora com função defensiva no meio-campo, e sua missão era não deixar o Panamá se organizar para os contra-ataques. Para isso, se multiplicou no gramado, com apoio de luxo da meia-atacante Kerolin. O Brasil perdia a bola, lá vinha Luana, não importa onde fosse a jogada, para no mínimo atrapalhar a transição do Panamá. Deu certo em praticamente todos os lances.
Para furar a retranca panamenha, o Brasil colocou suas cartas na mesa: Bia Zaneratto, Debinha, Adriana, Ary Borges, Kerolin, as laterais Antônia e Tamires, todas tiveram bons momentos na partida, sempre com muita movimentação. Até mesmo Luana aparecia de surpresa para apoiar o ataque, e quase fez um golaço em um chute de fora da área. Abrir o placar era questão de tempo, e bastaram 18 minutos para Debinha cruzar na medida e Ary Borges marcar de cabeça o primeiro gol do Brasil na Copa de 2023. Análise: Seleção feminina Análise: Seleção feminina
Aos 37, quem cruzou foi Tamires, e a meia-atacante outra vez finalizou de cabeça. A goleira Bailey até salvou, mas a própria Ary marcou no rebote. Aos dois do segundo tempo, o gol mais bonito: Debinha tabelou com Tamires e cruzou para Ary ajeitar na pequena área e tocar de calcanhar para Bia Zaneratto bater de primeira. O quarto do Brasil e terceiro de Ary Bortes veio aos 24, de novo de cabeça, agora em cruzamento de Geyse, que entrou no segundo tempo e foi outra dor de cabeça para a defesa do Panamá.
As substitutas também merecem um destaque. O Brasil não perdeu o pique mesmo após as mudanças feitas por Pia Sundhage, mostrando que a insistência da treinadora em exigir que as jogadoras saída do banco mantenham o nível da partida surtiu efeito no momento certo. Gabi Nunes quase fez um golaço, mas preferiu o passe em vez de tentar o chute após um lençol na marcadora. Duda Sampaio também assustou em chute cruzado.
A noite ficou completa aos 29 minutos, quando Marta entrou na partida, levando os 13 mil torcedores presentes à loucura. Pia escolheu tirar Ary Borges, e a mudança tem também um certo simbolismo.
Na última Copa de Marta, o Brasil apresenta ao mundo sua nova geração. De certa forma, começar o jogo sem a camisa 10 em campo torna a transição gradual, elas sabem que Marta estará ali se for preciso, mas também precisam aprender a jogar sem a craque.
No primeiro teste, a Rainha pode ficar orgulhosa das súditas. Sábado, contra a França, no jogo que poderá colocar de vez o Brasil no rol das favoritas, diante de uma rival de mais peso, talvez seja necessário ter Marta por mais tempo em campo, quem sabe até como titular. A transição está sendo bem feita, mas sempre há alguma coisa a mais a ensinar. ( Com Informações Ge )