Relembre o caso mais recente
O problema da Amazônia não é sua imensidão geográfica. Também não são os recursos financeiros ou a falta deles. O retrato de uma floresta desmatada, que se tornou um foco de crimes em série, como o assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, foi pintado por governos brasileiros, que, ao longo dos anos, impuseram um modelo predatório para a Amazônia e, mais recentemente, o desmonte de órgãos públicos.
Relembre mais um caso de impunidade
O agricultor Gilson Temponi era presidente da Associação dos Agricultores Nova Aliança, em Placas, estado do Pará, onde cerca de 600 famílias vivem de forma precária.
Por mais de 10 anos lutou pela regularização das terras junto ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Em 2018, Temponi denunciou ao Ministério Público, em âmbito estadual e federal, a exploração ilegal de madeira na Amazônia e as ameaças de morte que recebia. Nada adiantou. Em dezembro, dois homens bateram à sua porta e o executaram a tiros.
Gilson é um entre centenas de casos de assassinatos de lideranças rurais que atuam contra grileiros e a extração ilegal de madeira na região.
Em mais de uma década, mais de 300 desses defensores da floresta foram mortos, de acordo com os dados compilados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) e utilizados pela Procuradoria-Geral da República.
Em uma pesquisa em 2019 os números já eram alarmantes
A Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados fizeram uma audiência pública para apresentação do relatório da Human Rights Watch Brasil sobre a violência e impunidade na Amazônia brasileira. O relatório traz mais de 70 casos de ataques e ameaças, incluindo assassinatos, por madeireiros e grileiros, contra agentes públicos, povos indígenas e outros grupos que defendem a floresta. A pesquisa durou mais de 18 meses e entrevistou 170 pessoas, entre as quais 60 indígenas, além de moradores do Maranhão, Pará e Rondônia, além de dezenas de servidores públicos em Brasília e na Amazônia. O trabalho foca na ação de quadrilhas especializadas na extração de madeira, e afirma que grande parte do desmatamento na Amazônia é feito por redes criminosas que matam e fazem alianças com empresas para atingir metas.
Impunidade
O relatório traz dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que apontam mais de 300 pessoas assassinadas nos últimos 10 anos no Brasil, em conflitos pelo uso da terra e de recursos naturais na Amazônia. Segundo a Human Rights Watch, desses casos, apenas 14 foram julgados. Um dos casos citados no relatório foi a morte e o desaparecimento de dois trabalhadores do assentamento Terra Nossa, no Pará. Eles haviam dito que pretendiam denunciar a exploração ilegal de madeira na região. A ONG afirma que a impunidade associada aos assassinatos acontece por causa da falta de investigações adequadas pela polícia. Já a polícia afirma que isso acontece porque as mortes costumam ocorrer em áreas remotas.