“Ele chegou lá gritando de dor, pedindo atendimento e ninguém atendeu. Foi ficando lá, sentado. Até que morreu com o pescoço tombado.”
Dessa forma que o pai do artesão e garçom José Augusto Mota Silva descreveu, ainda no velório, a morte do filho na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Cidade de Deus, no Rio.
A necropsia feita pelo Instituto Médico Legal (IML) deve apontar a causa da morte. Até a última atualização desta reportagem, o resultado do exame não havia sido divulgado.
Vídeos gravados por testemunhas na sexta-feira (13) mostraram José Augusto já sem vida, sentado na recepção da UPA (assista acima).
“Difícil, difícil demais. Pelas imagens, está claro. Se houver uma investigação e for constatado, eles têm que ser punidos”, desabafou o pai, José Adão da Silva.
A falta de atendimento deixou os familiares revoltados.
Irmã de José Augusto, Meriane Mota Silva afirmou: “Ele não merecia morrer daquele jeito, sentado. Ninguém merece morrer que nem bicho, daquela forma. É desumano uma pessoa ficar sentada ali sem atendimento, sem acolhimento”.
José Augusto é o quinto filho de José Adão e estava no Rio havia 12 anos. Para levar o corpo a Mogi Guaçu, os parentes fizeram uma vaquinha pela internet.
Demora no atendimento
Pacientes que estavam no local relataram que José Augusto deu entrada na unidade se queixando de fortes dores e passou pela triagem, mas morreu sentado, sem ser atendido. Nas imagens, é possível ver que uma pessoa se aproxima, e ele não reage. Em seguida, o homem foi colocado na maca.
Segundo a irmã, José Augusto já havia passado por situações parecidas com dificuldade de conseguir atendimento. “Essas dores que ele tinha já vêm de meses. Ele estava procurando médico, diz que vai lá e ninguém atende ele. Quando atende, dá dipirona e manda embora.”
Funcionários serão demitidos
Por meio das redes sociais, o secretário de Saúde do Rio, Daniel Soranz, disse que todos os funcionários que estavam de plantão no momento da ocorrência serão demitidos. “É inadmissível não perceberem a gravidade do caso”.
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde afirmou que tudo aconteceu “muito rápido”, que o paciente estava lúcido e entrou andando na unidade. Depois, ao ser atendido, já estava desacordado. Uma sindicância foi aberta para apurar o caso.
“Dados do sistema mostram que a classificação de risco foi feita às 20h30 e, poucos minutos depois, foi acionada a equipe médica devido ao paciente encontrar-se desacordado”, diz a nota da secretaria.
O comunicado prossegue: “ele foi levado à Sala Vermelha para atendimento, mas infelizmente não resistiu e foi constatada a parada cardiorrespiratória. O corpo foi encaminhado para o Instituto Médico Legal para apurar a causa do óbito”. (Com informações G1)
AliançA FM