Copom decide nova taxa de juros sobre pressão do governo
Sob intensa pressão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva e diante de um cenário global adverso devido à recente quebra de bancos nos Estados Unidos e na Europa, o Banco Central do Brasil decide nesta quarta-feira (22/3) os rumos da taxa básica de juros (Selic), que serve como referência para os juros praticados no país em operações de crédito e financiamento.
Apesar das duras críticas ao elevado patamar da Selic, atualmente em 13,75% ao ano, a expectativa do mercado é que o Comitê de Política Monetária do BC (Copom) não realize cortes na taxa por enquanto, sob a justificativa de que a inflação continua pressionada no país.
O acumulado em 12 meses do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou em 5,6% em fevereiro. Isso significa que a taxa já caiu pela metade desde abril de 2012, quando atingiu o pico de 12,13%.
Sinalizações do BC
Na ata da última reunião, em janeiro, o órgão indicou preocupação com a deterioração das expectativas de inflação de prazos mais longos e não descartou a possibilidade de novas elevações da taxa Selic caso o processo de desinflação não transcorra como esperado.
O aumento dos gastos públicos e as incertezas fiscais também poderão fazer o Banco Central manter os juros elevads por mais tempo que o inicialmente previsto.
Também em declaração recente, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, defendeu a autonomia da instituição na definição da política monetária e disse que, pensar em uma política monetária e uma política fiscal de longo prazo, é importante para ter um crescimento econômico sustentável.
Campos avaliou positivamente o pacote de medidas já apresentadas pelo governo e tem boas expectativas em relação ao novo arcabouço fiscal que será apresentado pelo Ministério da Fazenda, em substituição ao teto de gastos, que limita as despesas do governo à inflação do ano anterior.
Depois de quedas nos últimos meses de 2022, as expectativas de inflação têm subido. Embora tenha apresentado uma variação negativa no último boletim Focus, a estimativa de inflação para 2023 está em 5,95%.
Em fevereiro, puxado pelo grupo educação, com os reajustes aplicados pelos estabelecimentos de ensino na virada do ano, o IPCA ficou em 0,84%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com o resultado, o indicador acumulou alta de 1,37% no ano e de 5,6% nos últimos 12 meses, percentual mais baixo do que os 5,77% verificados no período imediatamente anterior.
Repercussão em SC
Além de ser o principal instrumento do Banco Central para manter a inflação sob controle, a taxa básica de juros é usada nas negociações de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para as demais taxas de juros da economia.
Lula diz que vai “continuar batendo” para que BC reduza taxa de juros
Quando o Copom aumenta a taxa básica de juros, a finalidade é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança.
Desse modo, taxas mais altas também podem dificultar a expansão da economia — os bancos consideram também outros fatores na hora de definir os juros cobrados dos consumidores, como risco de inadimplência, lucro e despesas administrativas.
Já ao reduzir a Selic, a tendência é de que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica. Copom decide nova taxa Copom decide nova taxa
A decisão do BC tem, portanto, repercussão direta em Santa Catarina. No início do mês, o governador Jorginho Mello (PL), em manifestação conjunta com outros governadores, criticou as altas taxas de juros bancários aplicados no país, o que ele chamou de “agiotagem oficializada”.
Jorginho não fez crítica direta ao presidente do Banco Central, o que é adotado por Lula, mas, ainda assim, tocou o tema, já que a Selic baseia os juros aplicados no mercado.
Na ocasião, os governadores do Sul e Sudeste se reuniram em apelo por uma reforma tributária e pela revisão dos juros cobrados pela União das dívidas do estados — elas são corrigidas pelo IPCA, a inflação oficial do país, mais 4% ao ano, ou pela taxa Selic, o que for menor.
— O que vai fazer arrecadar mais é a reforma tributária e a coragem do governo em mexer com a agiotagem oficializada que é juro bancário. É impossível alguém crescer, empreender, correr riscos com taxas do tamanho que nós pagamos — disse Jorginho na ocasião.
AliançA FM