Vacina bivalente não vai requerer mais atualização; A nova onda de casos de Covid-19 no mundo, devido ao surgimento de sublinhagens da variante ômicron, levantou o debate sobre a necessidade da atualização das vacinas disponíveis. Apesar disso, os imunizantes produzidos com mais de uma cepa do coronavírus não são necessariamente melhores do que os já existentes, os feitos a partir da cepa de Wuhan, o SARS-CoV-2 original. Isso porque a primeira geração de vacinas contra Covid-19 continua sendo eficaz em evitar hospitalizações e mortes, e as bivalentes ainda não são capazes de evitar a infecção pela doença, afirma o imunologista da Universidade Rockefeller Michel Nussenzweig, um dos cientistas mais influentes do mundo, em entrevista à reportagem do Portal do Butantan.
Michel e sua equipe do Laboratório de Imunologia Molecular da Universidade Rockfeller estudam anticorpos (proteínas sintetizadas pelo sistema imunológico) que possam neutralizar a ação do SARS-CoV-2 no organismo humano, a partir de amostras de sangue de pessoas que sobreviveram à doença – o que abre caminhos também para o desenvolvimento de vacinas.
Michel é enfático em dizer que, apesar da atual onda de casos de Covid-19 afetar Europa, Estados Unidos e Brasil, entre outros países, ela se dá em um novo contexto, no qual a maioria das pessoas está vacinada com ao menos duas doses, além de já terem sido infectadas, o que ajuda a diminuir casos de hospitalizações e mortes.
- “Essas variantes são mais resistentes aos anticorpos produzidos em resposta à vacina ou à infecção, o que significa que as pessoas estão sendo mais infectadas, expostas ou expostas de novo, embora vacinadas, mas não estão adoecendo como no passado. Vemos muito poucos casos de internação ou doença gravíssima, principalmente entre aqueles que tomaram duas ou três doses. No máximo têm uma febre, tosse, mas não morrem. Portanto, dentro dessa perspectiva, a comunidade global pode tolerar essa resposta? Sim. Vamos voltar a fechar tudo por causa disso? Não”, afirma o especialista, que participou do International Centre for Genetic Engineering and Biotechnology (ICGEB), sediado no Butantan em novembro.
Segundo o imunologista, este contexto demonstra que as vacinas contra Covid-19 já existentes cumprem seu papel de salvar vidas, mesmo não tendo sido criadas para conter variantes. Isso, segundo ele, não descarta a necessidade de se atualizar os imunizantes existentes, sobretudo para que sejam capazes de evitar a infecção o que ele não vê como possível atualmente.
“Precisamos de vacinas novas e melhores? Seria bom ter uma vacina que protegesse contra infecções, mas a probabilidade é que isso não aconteça. Talvez tenhamos vacinas melhores e mais diversificadas, que funcionam em termos de imunidade, mas acho que as vacinas que temos atualmente são muito boas e que vai ser difícil torná-las melhores”, destaca.
Segundo o imunologista, diante da atual limitação da ciência, ele não enxerga as vacinas atualizadas como consideravelmente melhores do que as originais. “Não acho a vacina bivalente muito superior à que já estava lá. De qualquer forma, essas novas variações estão saindo, mas não acho que são muito melhores do o que já tínhamos, especialmente para pessoas que já tomaram duas ou três doses”, conclui.
AliançA FM