Embaixadores estrangeiros ouvidos pela reportagem definiram a apresentação do presidente Jair Bolsonaro (PL) na tarde desta última segunda-feira (18) como uma “tática trumpista” para desviar o foco ou mesmo para preparar o terreno para o questionamento das eleições.
O mandatário realizou no Palácio da Alvorada um encontro com dezenas de chefes de missão diplomática em Brasília. Na ocasião, Bolsonaro repetiu teorias da conspiração sobre urnas eletrônicas, desacreditou o sistema eleitoral e atacou ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).
A tática trumpista é uma referência ao ex-presidente dos EUA Donald Trump, admirado por Bolsonaro. Derrotado por Joe Biden, Trump insuflou teorias conspiratórias de que o pleito foi fraudado e foi peça central no episódio que resultou na invasão do Congresso americano, no início do ano passado.
Após a palestra, que durou cerca de 50 minutos, a Folha conversou com diplomatas estrangeiros que estiveram no Palácio da Alvorada. Eles falaram sob condição de anonimato, por não estarem autorizados a comentar temas de política interna brasileira.
O primeiro ponto, ressaltaram, é que as declarações de Bolsonaro não devem mudar a opinião das missões sediadas em Brasília. As equipes diplomáticas acompanham e reportam às respectivas capitais falas do presidente todos os dias e o conteúdo apresentado no Alvorada pouco divergiu de ataques anteriores contra o TSE perpetrados pelo mandatário.
A avaliação dos diplomatas estrangeiros ouvidos é que Bolsonaro, com o evento, tentou desviar o foco de problemas que afetam seu governo, como inflação e o preço dos combustíveis, ao mesmo tempo em que reforçou a narrativa que pode ser empregada para questionar o resultado das urnas em caso de derrota para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).