Como foi encontro com ‘honrarias’ entre Lula e Macron em Paris

Como foi encontro com 'honrarias' entre Lula e Macron em Paris

Em um período de relações conturbadas entre o Brasil e a França, o líder francês, Emmanuel Macron, desafeto do presidente Jair Bolsonaro, recebeu o ex-presidente Lula na quarta-feira (17) no Palácio do Eliseu com honrarias reservadas a altas personalidades para discutir temas globais “absolutamente fundamentais”, segundo o governo francês.

Esse protocolo é “sistemático” para acolher atuais e ex-chefes de Estado, segundo a assessoria do Palácio do Eliseu, além de representantes de grandes instituições internacionais, como as Nações Unidas, e altas autoridades.

No encontro, que durou pouco mais de uma hora, Macron e Lula discutiram inúmeros temas globais e ligados também ao Brasil, à América Latina e à União Europeia, embora Lula não ocupe nenhum cargo público.

Lula e Macron discutiram assuntos “absolutamente fundamentais hoje”, afirmou o porta-voz do governo francês, Gabriel Attal, citando a crise sanitária e seu impacto social, a transição climática e a luta contra o desmatamento.

A assessoria da Presidência francesa afirmou ainda que Macron abordou a governança global e o combate às desigualdades.

Em seu perfil no Twitter, Lula disse ter conversado no encontro também sobre a fome e a pobreza, além da integração com a América Latina.

As relações entre os dois países e entre Brasil e União Europeia também fizeram parte das discussões.

Premiação

O encontro no Palácio do Eliseu teve grande repercussão na imprensa francesa, que destacou que a visita a Macron precedeu a reunião de Lula com Jean-Luc Mélenchon, presidente do França Insubmissa, partido da esquerda radical, e candidato às eleições presidenciais em abril do próximo ano.

Na terça-feira (16), Lula já havia se encontrado com a prefeita de Paris, a socialista Anne Hidalgo, também candidata presidencial. Macron, por sua vez, ainda não declarou sua candidatura à eleição, que é esperada.

Antes de se reunir com Macron, Lula recebeu o prêmio da “coragem política” concedido pela prestigiosa revista Política Internacional.

Desde a criação da revista, há mais de 40 anos, esta é a quarta vez que esta premiação é realizada.

Os vencedores anteriores foram os ex-presidentes do Egito, Anwar Sadat, e da África do Sul, Frederik de Klerk, e o papa João Paulo II.

Segundo o fundador e diretor da publicação, Patrick Wasjman, o prêmio foi concedido pelas realizações de Lula ao longo de seus dois mandatos, particularmente em relação à redução da pobreza e o combate à desigualdade racial, e ainda pela “esperança” que ele representaria para uma parte dos brasileiros, “decepcionados” pela presidência de Jair Bolsonaro.

Wasjman disse à BBC News Brasil que questões internas brasileiras não fizeram parte dos critérios de escolha para a premiação.

‘Parceiros extraordinários’

No evento do prêmio, estavam presentes vários políticos franceses, principalmente da direita republicana, partido dos ex-presidentes Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy, que governaram a França na época que Lula foi presidente.

“O Chirac e o Sarkozy foram dois parceiros extraordinários do Brasil”, disse Lula durante a cerimônia de premiação. “Posso dizer que devo a respeitabilidade internacional que adquiri à boa relação que tive com a França”, acrescentou Lula.

O ex-presidente brasileiro também disse esperar “que o Macron seja um outro parceiro extraordinário quando o Brasil tiver um presidente que saiba ser presidente.”

Em uma coletiva de imprensa na quarta, que contou com a presença de vários jornalistas franceses, Lula disse que não está buscando apoio político internacional a uma eventual candidatura presidencial.

Segundo Lula, o objetivo de sua turnê pela Europa é “restabelecer a credibilidade do Brasil no exterior e mostrar que o país é infinitamente melhor do que o atual governo”.

De acordo com o porta-voz do governo francês, a disputa interna no Brasil “não tem nada a ver com a visita de Lula”. Attal acrescentou que não haveria ingerência da França no debate político brasileiro.

Recentemente, o presidente Macron declarou que as relações entre a França e o Brasil “já foram melhores.

Relação abalada

A amistosa relação de Macron e Lula contrasta com a do presidente francês e Bolsonaro. Desde 2019, os dois líderes vêm trocando farpas.

Naquele ano, quando as queimadas na Amazônia ocupavam o noticiário internacional, Macron criticou publicamente o governo brasileiro e inseriu o tema em uma reunião do G7, o grupo das economias mais ricas do mundo, sediada na França.

Bolsonaro e sua equipe viram no gesto uma afronta à soberania. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), chegou a publicar um vídeo no Twitter em que chamava Macron de “idiota”. O então ministro da Educação, Abraham Weintraub, o xingou de “calhorda oportunista” também na mesma rede social.

O presidente francês, mesmo antes da eleição de Bolsonaro, já alertava que sem um compromisso ambiental por parte do Brasil, não haveria um acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul.

O tom das críticas de Macron à política ambiental brasileira subiu nos últimos meses. O governo francês chegou a anunciar um plano para incentivar a produção de soja na França, como forma de não encorajar o desmatamento da Amazônia.

Houve também o episódio em que Bolsonaro cancelou de última hora uma reunião com o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, em Brasília, e foi cortar os cabelos. Nos bastidores da diplomacia francesa, comenta-se que Le Drian ficou aliviado com a anulação do encontro, evitando posar para uma foto com Bolsonaro.

Um outro atrito entre os dois líderes, que chocou a França, foi quando Bolsonaro endossou um comentário de um apoiador que ironizava a aparência física da primeira-dama francesa, Brigitte, de 66 anos.

Macron respondeu, na época, dizendo esperar que o Brasil tenha rapidamente um presidente “à altura” do cargo. “O que posso dizer a eles (povo brasileiro)? É triste, é triste. Mas é triste acima de tudo para ele e para os brasileiros”, declarou o presidente francês. “Acho que as mulheres brasileiras, sem dúvida, têm vergonha de ler isso de seu presidente”,

Em janeiro deste ano, em uma transmissão ao vivo no Facebook, Bolsonaro disse que Macron fica dando “pitaco” e fala “besteira” sobre a política ambiental brasileira.

“Não conhece nem seu país, fica dando pitaco aqui no Brasil. Essa é a politicalha deles”, disse.

Já Lula manteve um relacionamento amistoso com os dois presidentes que ocuparam o Palácio do Eliseu durante o período em que governou o Brasil (2003-2010): Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy. E sua visita à Macron pode dar continuidade às boas relações que ele mantém com o governo francês.

AliançA FM
Com informações do site BBC 

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