O presidente Jair Bolsonaro revogou nesta sexta-feira (5) a concessão de medalhas da Ordem do Mérito Científico à médica amazonense Adele Schwartz Benzaken, diretora do Instituto Leônidas & Maria Deane da Fiocruz Amazônia, e ao pesquisador Marcus Vinicius Guimarães Lacerda, da Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado, ligado ao governo do estado do Amazonas. A honraria homenageia pessoas que prestam grande serviço ao desenvolvimento da ciência brasileira.
Os nomes constavam do pacote de honrarias concedidas pelo governo publicado na edição de ontem do Diário Oficial da União. O próprio presidente concedeu a si o título de Grão Mestre da Ordem, e de outros a diversos ministros, entre eles o astronauta Marcos Pontes, da Ciência, Tecnologia e Inovações, e Paulo Guedes, da Economia.
No anúncio da revogação, Bolsonaro não deu nenhuma explicação sobre o porquê de ter voltado atrás nas condecorações. É muito provável, porém, que a assessoria do presidente não tenha checado os currículos dos até então homenageados. E quando o fez, constatou que os dois nomes não fazem parte do charlatanismo estimulada pelo governo.
Pela regra, é prerrogativa do presidente da República avaliar nomes apresentados pelo ministro das Relações Exteriores e já com parecer favorável do Conselho da Ordem. Este é formado pelo chanceler e pelos ministros da Ciência e Tecnologia, da Economia e da Educação.
Bolsonaro criticou estudo
Em março de 2020, início da pandemia de covid-19, Lacerda liderou um estudo clínico com mais de 70 profissionais, entre pesquisadores, estudantes de pós-graduação e colaboradores de instituições com prestígio em pesquisa, como Universidade de São Paulo(USP), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT/HVD) e Universidade do Estado do Amazonas (UEA).
Lacerda e colegas demonstraram que as doses de cloroquina normalmente usadas com sucesso em pacientes de malária e lúpus não funcionavam em pacientes com covid-19. E que, usando doses maiores, a cloroquina alterava o ritmo cardíaco, aumentando o risco de mortalidade.
Na época, o infectologista passou a ser ameaçado, tendo de andar com seguranças. E a pesquisa passou a ser criticada por Bolsonaro e seus seguidores.
A Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI) saiu em defesa do médico, que é um estudioso e expoente das pesquisas relacionadas a doenças infecciosas e parasitárias, entre elas doenças negligenciadas, como a malária. Em seu currículo estão mais de 250 artigos científicos publicados, inclusive em revistas de renome internacional, como a New England Journal of Medicine.
Saúde de homens trans
Diretora da Fiocruz Amazônia, Adele Benzaken é persona non grata do governo Bolsonaro desde o início do seu mandato. Em janeiro de 2019, ela foi demitida da direção do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das IST, do HIV/Aids e das Hepatites Virais (DIAHV) do Ministério da Saúde, cargo que assumiu em junho de 2016.
O governo recém-empossado logo mostrou insatisfação com a gestão de um departamento preocupado com a saúde de toda a população, sem exceção. Inclusive com a saúde de homens trans, para os quais havia sido criada uma cartilha específica de orientação e promoção da saúde.
Na ocasião, o governo Bolsonaro chegou a dizer que se tratava de uma “saída de comum acordo”, após ordenar a retirada da cartilha do portal do ministério na internet.
Consultora da Organização Mundial da Saúde desde 2001, Adele foi condecorada com 21 prêmios e títulos por seu trabalho combate as doenças sexualmente transmissível, entre ele do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). E participou de mais de 316 congressos, exposições e feiras sobre o tema.
AliançA FM
Com informações de Cida de Oliveira, da RBA