Uma pesquisa Datafolha, encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e pela Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps), revela que a maioria dos eleitores diz ter medo de sofrer agressões por motivos políticos. O estudo, divulgado nesta quinta-feira (15), mostra que 67,5%, entre 2.100 entrevistados, responderam ter medo de serem “agredidos fisicamente pela sua escolha política ou partidária”.
Os dados foram coletados em 130 municípios, entre os dias 3 a 13 de agosto. A pesquisa também mostra que 3,2% dos entrevistados sofreram ameaças por motivos políticos naquele mês. A violência política no Brasil vem se acirrando. Há quatro anos, assassinatos, ameaças e ofensas marcaram as eleições e, desde então, os casos vêm crescendo sem trégua também no pleito deste ano.
Em julho, por exemplo, o policial penal federal Jorge Guaranho invadiu a festa de aniversário do guarda municipal, sindicalista e tesoureiro do PT, Marcelo Aloizio de Arruda, que tinha como tema o PT e imagens do ex-presidente Lula, em Foz do Iguaçu (PR). Gritando “aqui é Bolsonaro”, o apoiador do atual presidente assassinou o petista com três tiros.
A definição está no Relatório Violência Política e Eleitoral no Brasil. Segundo a publicação da Terra de Direitos e Justiça Global, esses crimes podem manifestar-se por meio de atos físicos, simbólicos ou pela desestabilização psicológica. Podem sustentar-se em alternativas de ação individual ou coletiva, de forma isolada, difusa ou organizada.
Ainda de acordo com a cartilha, a violência política se divide em uma subcategoria: a violência eleitoral. Nesse caso, restringe-se a disputas entre candidatas e candidatos, partidos, coligações e federações partidárias durante a campanha. Visa alcançar objetivos dentro da dinâmica das eleições, buscando interferir nos resultados. O período eleitoral aumenta as disputas, o que acaba potencializando casos de violência.
Motivados pelos relatos de violência política ainda antes do início do período de campanha, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) instituiu um Grupo de Trabalho para elaborar e sugerir diretrizes para estabelecer ações voltadas ao tema durante as eleições. Conforme a Portaria n° 674/2022, as atribuições da equipe envolvem a promoção de audiências públicas, eventos e atividades que subsidiem o diagnóstico e a formulação de preceitos sobre o assunto.
O relatório da Missão de Observação Eleitoral da Organização dos Estados Americanos (OEA) indica que houve um aumento dos delitos violentos contra candidatas(os) e pré-candidatas(os) nas Eleições 2020. Segundo dados fornecidos por diversas instituições públicas, entre janeiro e novembro daquele ano, foram registrados 99 casos de tentativa ou de homicídios consumados. Além de 263 registros de ameaças e danos físicos.
Constatou-se também o aumento do discurso agressivo e discriminatório nas campanhas eleitorais, especialmente pela violência física e digital, inclusive com uso de notícias falsas para ataques e incitação de ódio. Segundo a Missão, existe um ambiente de medo e de intimidação que limita o desenvolvimento do eleitorado e de candidatas e candidatos na política.
Ao dimensionar o medo da violência política nestas eleições, as entidades também buscaram sondar o apoio à democracia e à agenda de direitos civis e humanos. Como resultado, a pesquisa também indicou que o respaldo ao autoritarismo caiu em relação ao estudo anterior, realizado em 2017. De acordo com o FBSP e a Raps, o indíce de propensão ao apoio a posições autoritárias saiu de 8,1 para 7,29. A escala vai de 0 a 10. O discurso perdeu mais força principalmente entre os jovens de 16 a 24 anos, observa o estudo.
Por outro lado, os pesquisadores consideraram ser alto o apoio à democracia, que obteve um índice de 7,25. Ao menos 88,1% confirmaram, por exemplo, que o eleitor em outubro devo tomar posse em 1º de janeiro. E até 89,3% atestaram como essencial “escolher seus líderes em eleições livres e transparentes”. O estudo relacionam que o apoio ao autoritarismo só é maior entre aqueles que temem a violência urbana.
No campo social, contudo, houve uma ligeira queda no índice dos que apoiam a agenda de direitos civis, humanos e sociais. Há cinco anos, era 7,8 e agora está em 7,6. A maioria dos entrevistados, 82%, no caso, defenderam, porém, a demarcação de terras indígenas que foi paralisada pelo governo Bolsonaro. Os entrevistados também rechaçam a bandeira do armamento defendida pelo presidente. Pelo menos 66,4% afirmaram que armar a população não aumentará a segurança. As entidades avaliam que as mulheres tendem a apoiar mais a agenda de direitos sociais do que os homens.
AliançA FM